Eu não tenho medo do fim do mundo. Tenho fascinação. A vertente de fim do mundo provocado por ação humana me desagrada, mas um meteoro, um super vulcão ou algo assim, me passa tranquilidade. Tranquilidade por saber que é algo totalmente fora do meu controle ou do controle de qualquer ser humano deste planeta. Está acima de tudo e todos. De todos egos, de todas vaidades. Todos se tornariam iguais automaticamente. É justo. É grandioso e acima de tudo, inevitável. É o nosso destino. O mundo, cedo ou tarde, acabará. Seja por um meteoro, um super vulcão ou pela expansão do sol daqui a bilhões de anos. É tão certo quanto a morte.
Algumas culturas celebram a morte. Eu, admiro o apocalipse. E por quê?
A humanidade por dentro
Quando criança eu já gostava de saber como as coisas funcionavam e também de ver seu interior. Mesmo brinquedos simples que não tinham nada de complexo eu desmontava para ver como eram. Tudo se torna interessante quando analisado parte a parte, de fora para dentro. Até mesmo uma bergamota me fascinava. Abro aspas para a criança eterna que habita meu coração, com seus 6 ou 7 anos de idade, poder se expressar:
“É uma fruta parecida com uma laranja, mas com uma casca que não gruda com tanta força nos gomos. Lisa e brilhante por fora, rugosa e branca por dentro. Os gomos são unidos, mas não com tanta força, de forma que é possível separá-los com as próprias mãos sem rompê-los. E entre a casca e os gomos, há esse tipo de cola branca que não tem gosto. E cada gomo é constituído por uma espécie de pele fina, e dentro deles, outros pequenos gomos, onde o sabor de fato está. Alguns dos gomos grandes também têm sementes. E até a semente você pode ir dividindo em camadas. E qual o gosto da semente? Alguém já experimentou? Por que a bergamota é diferente da laranja? Por que há espécies diferentes de bergamotas? O que elas têm de diferente e por que, ao longo dos milhares de anos, elas ficaram assim? ”
Penso que essa fascinação pelo apocalipse se dá pelo fato de poder se desmontar a humanidade e assim vê-la por dentro. Destruiria todas as máscaras que criamos. O que realmente importa? Para o que realmente devemos viver? Quem são as pessoas cujas opiniões realmente são relevantes para nós? Seria o contato mais puro com a nossa essência coletiva. Vaidades, egos e aparências são totalmente irrelevantes nesse cenário.
E eu não acho que a humanidade seja ruim. Dissertar aqui sobre a origem da maldade aparente da humanidade é algo para uma série longa de textos. Mas, em síntese, eu acredito que todos colocados na mesma condição e despidos de suas fantasias, com aqueles que nunca sofreram fome sentindo em seus estômagos e almas o suco gástrico corroendo, com aqueles que sempre tiveram onde dormir sentindo o vento frio das madrugadas cortando seus olhos, haveria a chance de sentimentos de empatia e união seriam despertados. A maldade existiria, sim, mas o espírito coletivo de um mundo “apocaliptizando-se”, seria totalmente diferente do que temos hoje.
Pararíamos de gastar energias em futilidades e buscaríamos não só o que precisamos para sobreviver como animais, mas muitos, enfim, olhariam para suas almas e Deus.
E isso não é bonito?