Um dos recursos mais bacanas do ser humano é a capacidade de saber o que é melhor para a vida dos outros. São todos graduados em Ciência da Vida Alheia, com pós em Soluções Para Agentes Externos. Resolver a sua vida? Não. Jamais! O negócio é dar palpite na vida dos outros.
Quantas vezes alguém, sem ter o menor conhecimento da sua vida ou de você, e sem ser requisitado, já lhe deu alguma solução mágica para algo que você nem sabia que era um problema?
Por exemplo: tenho cabelo comprido há mais de 15 anos e barba há uns 10. Aparentemente, algumas pessoas consideram isso um problema e, portanto, recorrentemente, desde o ano 2000, fazem as perguntas:
- E esse cabelo… quando vai cortar?
- Rerere… e essa barba?
As respostas que eu deveria dar:
- Cuide da sua vida.
- Está na minha cara, não na sua.
Já ouvi também super dicas “de carreira”. Nessas “dicas”, percebi que as pessoas têm obsessão por concursos públicos. Algumas pessoas falavam tanto nisso comigo que precisei ser estúpido para elas pararem.
Observem que a questão aqui não é fazer ou não concurso público é simplesmente não se meter na dos outros sem ser convidado.
Mas por que esse fenômeno ocorre?
Minha tese é que tudo que é diferente é ameaçador.
“Estou eu, aqui no meu mundo, com usuários de gel e lâminas de barbear, estudando para um concurso público, quando surge um cabeludo barbudo que tem ambições diferentes da minha. Ele é diferente da minha tribo e talvez essa diferença represente um risco”.
Então a pessoa tenta diminuir a ameaça, ridicularizando, confrontando ou tentando modificar o agente amedrontador.
Pode haver a situação também em que a pessoa, sabe-se lá porque, acredita que você está infeliz ou em um caminho ruim e quer te ajudar dando a fórmula mágica dela.
Mas um fator muito interessante que deve ser considerado, é que nenhum desses doutores de vida alheia é um grande sucesso ou chegou onde você pretende chegar. E aí você pode trabalhar o conceito de “grande sucesso” afim de decidir o que é ou não um modelo a ser copiado e/ou admirado. Para você, é alguém rico? Alguém livre? Alguém independente? Alguém influente?
Ou seja, nem para o “sucesso” há um conceito definido. Cada pessoa tem seu caminho a seguir, seus modelos, suas bases, seus alvos. Não é porque ela usa lâminas de barbear ou não que ela é inferior ou está errada. A vida é estupidamente mais profunda que isso.
A vida é um caminho em busca de felicidade. É uma história que cada pessoa tem o direito de escrever.
É como uma noite escura em que estamos perdidos no mato, somente com uma lanterna, com diversas outras pessoas em caminhos paralelos porém distintos, cruzando-se eventualmente. Cada vez que direcionamos essa lanterna para o caminho do vizinho, deixamos de iluminar o nosso. E se cairmos na tentação de seguir a grama mais clara por onde nosso vizinho caminha, podemos encontrar percalços para os quais não estávamos preparados. Ou pior: descobrir que o nosso vizinho estava simplesmente procurando o caminho até o precipício mais próximo.
😀 é so cortar o cabelo, ue
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