Eu sempre fui uma pessoa bastante solitária. Não tive irmãos e aprendi desde criança a brincar sozinho e gostar de fazer isso. Às vezes preferia ficar em casa brincando com minha imaginação do que sair para brincar com meus amigos.
Apesar disso, nem de longe minha infância foi solitária. Tive vários amigos no bairro onde eu morava e, sim, gostava de brincar com eles, mas provavelmente eu gostasse de ficar sozinho mais do que as outras pessoas normalmente gostavam.
É um sentimento muito mais profundo que estar fisicamente com pessoas. É algo que eu demorei décadas para entender. Nos últimos anos eu lutei contra isso e vivi em uma grande confusão que misturava uma série de sentimentos e pensamentos, todos acerca dessa solidão. Ainda está tudo um pouco nebuloso, mas graças às terapias hoje consigo entender com muito mais clareza essa minha posição no mundo.
É uma longa jornada que começo a crer que me trouxe muito mais benefícios do que malefícios. Embora eu tenha uma certa dificuldade e pouca paciência para me relacionar com as pessoas em geral, aprendi mais a conviver com aquele que está sempre comigo: eu mesmo.
E aí eu pergunto para você, meu caro leitor: o quanto você se aguenta? O quanto você se conhece? É muito difícil olhar para você e perceber defeitos que você só via nos outros?
A minha experiência é de que é bom achar seus defeitos, não porque você necessariamente irá conseguir corrigi todos eles e chegar à perfeição nessa vida, pois isso é impossível, mas sim porque você consegue ver que é igual a todos os seres humanos e mais importante ainda, consegue ver também suas qualidades. Sabendo bem de seus defeitos e qualidades, conseguirá prestar um serviço melhor ao mundo, a você e a todos que você ama.
Não deixa de ser irônico como a solidão pode te fazer ser uma pessoa melhor para a sociedade.