Ontem fui trocar os pneus do carro. Esse tipo de atividade que envolve “serviços com o carro” sempre me traz algum nível de desconforto, pois o meio automotivo é, talvez, o meio mais cercado de mitos e nojeiras.
Demorei anos até achar uma oficina mecânica que entende que eu não quero gambiarra e que pode fazer o serviço decente. Quando preciso sair de lá para outras tarefas, envolvendo parte elétrica do carro, pneus ou funilaria, sempre relembro aventuras que já passei em outros lugares e lamento as próximas que irei passar.
No “mundo dos pneus”, eu simplesmente não consigo entender porque as pessoas não utilizam a calibragem definida pelo fabricante. Está no manual do carro ou às vezes no próprio carro, na tampa do reservatório de combustíveis ou atrás da porta do motorista. Se o manual estiver extraviado e não houver a tabela no carro, é uma informação relativamente fácil de se encontrar na Internet.
Puxa vida, é uma empresa que faz só isso. Como eles não tem uma tabela com a calibragem recomendada?
Certa vez um pneu furou. Fui na borracharia e, após o conserto, o funcionário me perguntou quantas libras era para colocar, se era para colocar 30 (não sei de onde ele tirou esse número). Costumo utilizar 29 na dianteira e 26 na traseira, o que está dentro das especificações e recomendações do manual do meu carro. Falei para a pessoa colocar 26. Ele se espantou, como se eu estivesse cometendo um crime.
Outra vez, quando troquei os pneus, sai com o carro e percebi que ele estava vibrando um pouco mais do que deveria. Fui verificar e os campeões tinham colocado 35 libras nos 4 pneus, muito mais do que o recomendado.
Mas dá para culpar os profissionais do mundo dos pneus? Talvez se eles fizessem o correto as pessoas reclamassem. Já notei que em geral as pessoas gostam de andar com os pneus “mais duros”, com calibragens altas, e os 4 pneus com a mesma pressão, o que não faz sentido já que na maioria dos carros há mais peso nas rodas dianteiras. Muitos fazem isso para “economizar combustível”, sem se dar conta que estão forçando mais os amortecedores e simplesmente andando com o carro fora das especificações recomendadas e testadas pelo fabricante. Ao meu ver, mais uma economia muito porca que o brasileiro adora, especialmente por envolver segurança, uma vez que um pneu muito cheio tem menos aderência à pista do que um com a calibragem correta ou um pouco abaixo.
Certa vez estava na oficina que costumo ir esperando alguma coisa, quando vi uma pessoa com uma caminhonete Fiat Toro Volcano novinha, fazendo uma das primeiras revisões. Este carro na época custava cerca de R$ 150.000,00. A oficina deu a lista das tarefas a realizar, todas preventivas, e o sujeito simplesmente não quis trocar um dos filtros de R$ 200,00 (acho que era o filtro de ar). A pessoa da oficina tentou explicar que era importante, mas o proprietário simplesmente se recusou e optou somente pela troca de óleo.
O cara comprou um carro de 150 pau e não quis gastar 200 pila pra manter o carro.
Também já vi gente com carrão de mais de R$ 180.000,00 com motor de alta compressão e injeção direta colocando gasolina comum (o certo para esses motores seria Podium ou equivalentes de alta octanagem). Já vi gente comprar carro zero, não fazer seguro e perder totalmente o veículo em assalto ou batida. Talvez essas pessoas simplesmente não tenham condições de ter o carro que têm, mas prefiram gastar o que não possuem para ostentar uma imagem de que possuem mais do que realmente possuem, quando a realidade diz que elas precisam economizar cada centavo para sustentar essa fantasia. Isso não traz infelicidade? Não é melhor ter um carro simples, sem dívidas, inteiro e com toda manutenção em dia do que sofrer para se exibir?
É o povo do jeitinho, da malandragem, que utiliza gambiarra até para parecer ser o que não é.