Confesso: eu já quis ficar conhecido pelo que escrevo. Há décadas atrás, no começo da Internet, meus blogs começaram a ganhar um número bom de visualizações, pelo contexto da época. Hoje percebo que eu acabei me autossabotando e gradativamente abandonado tais blogs. Acho que “a fama”, mesmo que entre um seleto grupo de pessoas, sempre me assustou.
Hoje mais ainda, com esse mundo insano de cancelamentos e busca por pessoas perfeitas.
“Eu era teu fã, mas agora que descobri que você vota em um político diferente do meu, vou queimar tudo que tenho a teu respeito, te deixar de seguir e xingar muito no Twitter”. Esse é o pensamento dos dias atuais.
Mas o que mais me assusta é o analfabetismo funcional severo de uma sociedade extremamente arrogante e ignorante. Não é por acaso que a falta de humildade invariavelmente vem acompanhada de ignorância.
O povo acha precisa ter opinião sobre tudo e que tem profundos conhecimentos sobre todos assuntos!
Eu sou um generalista. Como eu mesmo me defino, sou “especialista em assuntos aleatórios”, não especialistas nos assuntos aleatórios que abordo. Agora imagine um cara como eu ficando famoso e virando um “influencer”. Aí eu escrevo superficialmente sobre temas que gosto e pessoas tomam aquilo como lei. Pior ainda: como são analfabetos funcionais, distorcem o que eu digo para que aquilo se encaixe na caixa ideológica delas.
Mas o pior não é isso. Certo dia, faço uma piada de humor negro – que eu adoro – e toda a internet automaticamente me “cancela” assumindo que sou um monstro.
Ou, faço algum comentário sarcástico ou irônico e, na pátria dos analfabetos funcionais, sou interpretado no sentido literal, como já aconteceu comigo por aí.
E vai explicar que focinho de porco não é tomada para uma multidão enfurecida que troca “mas” por “mais” e tem fã clube de político.
Não tem como.
Talvez, sim, eu almeje um dia me dedicar seriamente e me tornar palpiteiro profissional, mas, enquanto isso não acontece, posso curtir em paz minha vida de anônimo irrelevante.