Um Peixe dentro de um Ovo de Páscoa

A Páscoa chegou e, como em todo feriado nacional de cunho religioso, surgem os fiscais de feriado. “Ah, mas Jesus não nasceu em 25 de Dezembro”. “Ah, mas o ovo da Páscoa foi copiado dos pagãos pela Igreja”. “Ah, mas Jesus isso e aquilo”.

Há também os fiscais de ovos. Não, não os fiscais dos ovos do Bolsonaro e do Lula – e há vários, e sim os fiscais de ovos de Páscoa, críticos daqueles que compram um ovo com 200 gramas de chocolate ao invés de uma barra de chocolate de 200 gramas que custa metade do preço. Eu não quero comentar sobre desafio logístico de transportar um ovo da fábrica até o supermercado e nem na lei de oferta e procura que justifica o preço dos ovos de páscoa, mas sim sobre algo mais subjetivo: a experiência.

No desenvolvimento de software, nós temos um termo bem comum que é o “experiência do usuário” que, em essência, se refere a como o usuário se sentirá ao utilizar nosso produto, pois não adianta desenvolvermos algo com ter recursos magníficos se não for agradável de usar.

E isso serve para tudo na vida. Por que muitas pessoas preferem pagar um pouco mais caro e serem bem atendidas do que pagarem menos, exatamente pelo mesmo produto, mas serem mal atendidas? Pela melhor experiência.

E isso se aplica aos ovos de páscoa. Eles são muito mais chamativos do que uma barra de chocolate. Alguns, contém surpresas dentro. Para uma criança, é uma experiência totalmente diferente receber um ovo grandão com um “mistério” em seu interior do que uma barra de chocolate. Acho que adultos, em geral, também sentem um impacto maior com um presente grande, em uma embalagem brilhante, fabricado somente uma vez por ano do que uma corriqueira barra de Diamante Negro.

Digo isso de uma maneira geral. Não estou me incluindo nisso. Eu gosto de chocolate, em todas as formas e tamanhos. Bem, talvez não em todas as formas. Um chocolate em forma de piroca seria bem estranho.

Ou um ovo de páscoa com um peixe dentro.

O peixe que as pessoas comem na sexta-feira santa e não sabem porque o fazem. “O padre disse”, “tá na Bíblia”, “pra Jesus”, “pra não ir pro inferno”. Na prática isso não importa pois, novamente, é a experiência que se tem. É um dia especial onde as pessoas fazem algo diferente.

E eu não me importo com isso. Façam o que quiserem, ora bolas!

O que me incomoda é a quando impõem isso para mim. E por “impor” eu não quero dizer “convidar para comer peixe” e sim achar que é “o fim do mundo” eu não comer peixe na Sexta-Feira Santa. As mesmas pessoas que o fazem sem saber exatamente porque estão fazendo e se incomodam com questionamentos a esse modo de agir.

Voltamos aos ovos… Não, não aos meus, aos ovos de páscoa. Pergunto: no mundo de hoje, como as pessoas estão educando seus filhos a respeito da Páscoa? Será que há pessoas, com condições financeiras, que queiram “lacrar” pra cima das suas crianças, tentando enfiar na goela de um moleque de 5 anos que ele deve descartar toda a experiência de uso e analisar somente o custo-benefício do ovão Sonho de Valsa frente a uma caixa de bombons?

O mundo hoje tá tão bizarro, tão estranho, que não me admiraria se isso acontecesse. Pessoas preocupadas em militar na Páscoa, para crianças, enquanto os outros estão celebrando, felizes, da forma que quiserem, com ovos ou não, com peixe ou não.

Aposto que os ovos dessas pessoas fedem a peixe. E, dessa vez, não me refiro aos ovos de páscoa.

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