Ecos

– Por que choras?

– Sinto-me só, Mestre.

– Como pode sentires só se aqui estou?

– Você não está aqui exatamente. Posso senti-la, mas não posso vê-la.

– E isso me torna menos presente?

– Sim, ao passo que não consigo ver tuas expressões, ver o que fazes por mim e nem me sentir confortado pela tua compreensão.

– Pois teu coração também não está visível, embora saiba que ali está e possa senti-lo.

– É diferente. Ainda me sinto só. Mestre, minha solidão seria um dos pesos que eu deva carregar? Ou talvez, uma escolha minha para poder me manter desconectado deste mundo quando assim necessário? Eu não gosto de me sentir só. Não parece ser algo que eu escolhi.

– Não te esqueças que teu “Eu” mais puro e superior é maior do que esse “eu” reduzido que aqui senta diante de mim e me questiona. Converso com um ser semiconsciente. Plenamente consciente, tua sensação e sentimentos poderiam ser outros.

– Mas se a maior parte do tempo eu estou nesse estado, semiconsciente, se minha vida é assim, o que posso fazer?

– Buscar a consciência maior! Com ela poderás ver tudo que está ao teu redor. Toda a luz e a todos que te rodeiam.

– E os medos em minha alma?

– Tu os verás e assim os compreenderá. É como alguém batendo na porta. Tu tens medo, mas assim que abrires a porta verás que se trata de apenas de um mensageiro lhe dando boas novas. Ou dizendo-lhe que tu fostes aceito na Universidade, algo que é bom, mas também lhe trará uma nova quantidade de trabalho.

“Veja, filho, os medos são inseguranças. Tua sensação de incompreensão persuadirá a vontade da alma de desistir da existência plena condicional. Tua compreensão revelará a verdadeira face dos fatos e a profundidade da energia que permeia cada átomo do teu corpo. A Verdade. A Verdade não é uma revelação escrita de um segredo de escola. A Verdade é simplesmente a pura existência. O simples e complexo ato de existir e ser. Teus sonhos todos são manifestações da tua alma gritando para te mostrar os teus medos. Precisas acordar nos teus sonhos para assim compreender. Precisas buscar a compreensão tua antes de mais nada. Precisa ser e estar. Precisa ser e sentir. A verdade só se manifestará assim.

Sempre tu me dizias que “tudo é energia”. Eis o momento de crer e pôr em prática. Eis a hora de buscar essa compreensão e revelar a tua verdadeira identidade.”

Um, de diversos diálogos que ele teve com sua Mestre e outros colegas. Diálogos que ecoavam em sua cabeça como um grito em uma caverna vazia, até serem totalmente absorvidos pelas paredes e se dissiparem no nada. São os ecos, entretanto, que acabavam revelando-se em certos momentos da vida e brotando na beira de um rio na forma de flor. Uma flor. Uma simples e pura flor, com suas pétalas violetas com bordas brancas. Molhada pelo orvalho e iluminada pelo sol. Uma flor que brotava pelos ecos e ali se manifestava.

Ele sabia, cada vez que olhava para aquela flor – não para uma em específica, mas para cada flor que na beira do rio nascia – que eram os ecos de sua Mestre que afloravam. Era uma beleza imensurável, porém, simultaneamente, a dolorosa verdade de saber: os ecos.

Ecos do Infinito

A compreensão nunca foi o forte dele. Seus pensamentos e sentimentos ecoavam nos muros que ele havia construído para se proteger. Eram muros sólidos em uma realidade onde o intocável, sadicamente, acaricia com a mão dourada enquanto sufoca com a mão negra.

“Como posso me sentir acompanhado quando tudo que vejo são muros? ” – Perguntava. A Mestre, não respondia. Evasiva, sorria e comentava sobre a beleza do céu acima de suas cabeças. Ele, às vezes aceitava. Outras vezes, deitava e chorava. Tudo era ruído.

Até que certa vez, sua Mestre entendeu que deveria responder, mesmo sem ele ter perguntado. A pergunta não veio, mas no olhar sabiam do que se tratava. Sentou ao lado das flores e assim disse:

– Estes muros são tua criação para tentar prender os ruídos da caverna que te recusas a ouvir. O Infinito quando tudo criou, produziu um som. O som, bate nestas paredes e volta a ti. Ouve este som em forma de eco, e não ouves as falas de tua caverna. Mesmeriza-te com a beleza das flores e entorpece-te com estes ecos. Os muros são tua criação para deixar que só tu vejas a beleza das flores. São o egoísmo que criastes. E como punição, ouves apenas os ecos do Infinito, não o que Ele diz. Derruba estes muros! Mostre as flores ao mundo e ganharás mais do que a manifestação das falas da tua caverna. Entenderás a essência, a raiz, o começo o meio e o fim de tudo que te assombrou. Entenderás os teus medos, os medos alheios, a luz e a escuridão. E muito mais importante, fará a tua missão e o que esperamos de ti.

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